Grupo dos 11

sábado, 13 de março de 2010

Em 1963, o governo do presidente João Goulart encontrava-se num fogo cruzado. Havia pressão dos Estados Unidos, havia uma oposição sistemática, de natureza conservadora, por parte da União Democrática Brasileira (UDN) e do governador do Rio de Janeiro, Carlos Lacerda – àquela altura engajados em plena conspiração com os militares para derrubar o governo. A estratégia contemporizadora de Jango, por outro lado, gerava uma crítica insistente vinda dos grupos da esquerda nacionalista e reformista, que aguardavam as Reformas de Base e enxergavam em Leonel Brizola o que de mais à esquerda existia no trabalhismo brasileiro. “Façamos a revolução ou eles a farão”, eram as palavras de Brizola a essa época.


Na noite de 29 de novembro de 1963, Brizola tentou um lance de audácia: utilizou seu programa na rádio Mayrink Veiga, para lançar um movimento de massa, com uma operacionalidade ágil e flexível, dotado de capilaridade para atuar em todo território brasileiro, incluindo suas áreas mais isoladas e distantes. O movimento recebeu o nome de Comandos Nacionalistas ou Grupos dos 11 Companheiros, mas ficou nacionalmente conhecido como Grupos dos 11.

A idéia não era nova: evocava ainda que longinquamente os antigos clubes políticos que se disseminaram pela cultura democrática e republicana a partir do século XVIII, funcionam ainda hoje a meio caminho entre o mundo público e o mundo privado e cumprem papel importante na formação do espaço público. A novidade estava na metáfora. Com ela, Brizola construiu uma referência muito próxima da realidade brasileira: o futebol. O Brasil acabava de se transformar em bicampeão mundial com as conquistas de 1958 e 1962; o apelo era simples, direto, com forte potencial de mobilização e muito próximo do cotidiano do povo para não ser compreendido.

Entre novembro de 1963 e março de 1964, pelo volume da correspondência despejada todo dia na rádio Mayrink Veiga, é possível que tenham surgido no país por volta de 24 mil grupos. Recebiam instruções e trocavam comunicações através dos programas radiofônicos e por meio do jornal Panfleto. Desarmados, seu propósito era nacionalizar as empresas estrangeiras, impor o controle da remessa de lucros para o exterior, lutar pelo programa das Reformas de Base, e em particular, pela Reforma Agrária. Criados às vésperas do golpe militar demonstraram baixa capacidade de reação a ele. Mas, sem dúvida, os Grupos dos 11 constituíram uma experiência inédita de politização e organização popular rica para as esquerdas no conturbado cenário político que marcou o final do governo João Goulart.

Para saber mais:
SZATKOSKI, Elenice. Os Grupos dos 11: uma insurreição reprimida. Passo Fundo: Editora da Universidade de Passo Fundo, 2003.
LEITE FILHO, F. C. El caudillo Leonel Brizola: um perfil biográfico. São Paulo: Editora Aquariana, 2008.

Referências bibliográficas
SZATKOSKI, Elenice. Os Grupos dos 11: uma insurreição reprimida. Passo Fundo: Editora da Universidade de Passo Fundo, 2003.
LEITE FILHO, F. C. El caudillo Leonel Brizola: um perfil biográfico. São Paulo: Editora Aquariana, 2008.
TRAJANO, JOÃO. Brizolismo: estetização da política e carisma. Rio de Janeiro: Editora Fundação Getulio Vargas: Espaço e Tempo, 1999.
FERREIRA, Jorge. “Leonel Brizola, os nacional-revolucionários e a Frente de Mobilização Popular”. In:
FERREIRA, Jorge; REIS FILHO, Daniel Aarão (org.) As esquerdas no Brasil: revolução e democracia. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007. v. 2.
SADER, Emir (org.) Betinho: no fio da navalha. Rio de Janeiro: Revan, 1996.
TULER, Marilene. O massacre de Ipatinga; mitos e verdades. Belo Horizonte: O Lutador, 2007.
ARMONY, Miguel. A linha justa: a Faculdade Nacional de Filosofia nos anos de 1962 a 1964. Rio de Janeiro: Revan, 2003.

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